UMA BREVE HISTÓRIA DAS FICHAS DAS BARCAS DA LINHA
RIO – NITERÓI – IMPÉRIO DO BRASIL

No primeiro dia de janeiro de 1502 um grupo de expedicionários portugueses navegaram pela costa sul do Brasil, na área que hoje chamamos de Baía de Guanabara. Sob a liderança de Gaspar de Lemos e do famoso cartógrafo, Américo Vespúcio, eles estavam fazendo, tanto quanto possível, o mapeamento da costa, sob ordem do Rei de Portugal. Pensando que a baia fosse a embocadura de um grande rio, aliado ao fato de terem entrado na baía no dia 1 de Janeiro, os exploradores lhe deram o nome de Rio de Janeiro.


Nos seguintes trezentos anos a cidade do Rio de Janeiro cresceu, fixando suas raízes. Navios comerciais saíram e entraram na baía com destino a Portugal e outros países da Europa. No entanto, o tráfego local entre o Rio e outros pontos dentro da baía limitou-se aos barcos de pequeno porte e as embarcações indígenas. A situação permaneceu assim até aproximadamente 1820 quando uma companhia de transporte local arriscou-se a operar na baía.

Em 1820 o navio “Bragança” começou a travessia entre Rio e cidade de Niterói e, apesar de ser uma empresa comercial, não era regular. Isto é, ela só funcionava quando havia carga e passageiros em número suficiente para compensar a viagem.


Somente entre 1834 e 1835 é que ficou estabelecido um serviço regular, tendo sido formada a “Companhia de Navegação de Nictheroi” a qual pôs a serviços a “Especuladora” movido a vapor. Tratava-se de um navio compacto com dois mastros e duas rodas propulsoras movidas pelo vapor e o vento. Além de passageiros e carga, animais também foram transportados, regularmente, pela baía e mais tarde outras duas barcas, “Niteroiense” e “Praia Grandense” juntaram-se à “Especuladora” e a frota foi consolidada.
Em 1835 a tarifa normal era de 100 réis nos dias úteis e 160 réis nos domingos e feriados. Após 18 horas todas as tarifas subiam para 320 réis. Entretanto, os escravos eram transportados a taxa regular de 80 réis e 100 réis após das 18 horas.

A História da “Especuladora” não durou muito. Em Março de 1844, na viagem de Niterói ao Rio de Janeiro o navio explodiu e mais de um sexto dos passageiros morreram . No 1 de Março de 1855 houve a fusão das duas companhias: a “Companhia de Navegação de Nitcheroi” e a “Companhia Inhomerim “ juntas vieram a formar a famosa “Companhia de navegação Nitcheroi &. Inhomerim” Nessa ocasião a “Santa Cruz” uma barca com características similares a Especuladora , que naufragou, também veio fazer parte do transporte entre Rio e Niterói . Com três mastros e rodas propulsoras movidas a vapor , ela também transportava carga , animais e passageiros. Além de percurso Rio- Niterói, os navios dessa nova companhia atingiam também as localidades de Piedade, Ilha de Paquetá, Ilha do Governador, São Cristóvão e Botafogo.

Nesta época, as primeiras fichas foram lançadas para a nova companhia . Em vez de bilhetes, os passageiros compravam fichas e as apresentavam ao embarcar. As primeiras fichas não eram muito vistosas. De formato octogonal, alongadas mediam 48×32 mm e eram de zinco.Eram uniface e com o valor no centro – na orla os dizeres: COMPANHIA NICTHEROI & INHOMERIM . Nos arquivos constam os valores de 40, 80, 120, e 240 réis como então existentes. Poucos exemplares destas fichas existem hoje, provavelmente por terem sido utilizadas por pouco tempo.

O segundo e mais fomoso lote de fichas dessa companhia foi criado pela firma “W. J. Taylor” de Londres. A vistosa ficha media 45.5 x 34,5 mm e foi feita em bronze. No campo do averso ve-se a barca “Santa Cruz”, a todo vapor. No orla: COMPANHIA NICTHEROI & INHOMERIM. No reverso, ao centro, os valores: 40, 80, 120, 160, 240, 320, 400, 640 e 1000 réis respectivamente, com a orla decorativa.

 

Após essas duas emissões de fichas metálicas, a companhia finalmente imprimiu as passagens em papel de acordo com a localidade, e a hora do dia é que determinava o seu preço. Por exemplo, em 1862 a viagem Rio-Niterói custava 120 reis para as pessoas calçadas e 80 reis para os descalços. Após 20 horas todos pagavam 500 reis. Com destino ao porto de Estrela, os adultos pagavam 1500 reis e as crianças abaixo de 12 anos, 500 reis.
A “Companhia Nictheroi & Inhomerim” durou 12 anos e foi instrumental na abertura do comércio e transporte na Baia da Guanabara e os portos circunvizinhos.

Em 1861 a companhia deixou de existir e foi substituída pela “Companhia de Barcas Ferrry” que já existia desde 1862. Com o fim da “Companhia Nictheroi & lnhomerim” deixou se de utilizar fichas durante quase 100 anos.

Muitos anos depois e após o surgimento de várias companhia, em 1946 o monopólio do transporte na Baía da Guanabara passou a ser exclusividade da “Frota Carioca S.A.”. De 1950 a 1954 foram introduzidas fichas de bronze de 18 mm de diâmetro, redondas e reforçadas como taxa de embarque, bem mais simples do que suas antecessoras. No anverso e no reverso lia-se:

“F.C.S.A. – RIO”. A sigla “F.C.S:A.” significava: Frota Carioca S/A A palavra “carioca” significa a pessoa nascida no Rio de Janeiro e é de origem indígena. “Cari” significa branco na língua indígena e “Oca” a casa. Os moradores da casa branca seriam então a tradução literária. Modernamente se refere aos nascidos na cidade do Rio de Janeiro.

A Frota Carioca S/ A foi a última companhia de transporte privado a controlar o tráfego na baia. Um grande incêndio ocorrido em 1959 pôs um fim trágico a “F.C.S.A.”.

A partir de então o tráfego marítimo passou para as mãos do Estado: CONERJ (Companhia de Navegação do Estado do Rio de Janeiro).

…… E assim passaram à História, os mais de 155 anos de comércio dessas companhias particulares e as fichas emitidas por elas.

(Artigo da autoria de Wesléy E. Scharlow dos Ee.Uu. – Transcrito, em tradução, da Revista TAMS – Tokem & Medal Society dos EE.UU. de Dezembro de 1987 – Volume 27 Edição 6)

revisão Yuri Victorino – Cemip

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